sábado, 11 de junho de 2011

Em contato com a ciência de ponta

   Alunos e professores do ensino médio têm a oportunidade de avaliar dados reais gerados pelo maior acelerador de partículas do mundo, o LHC, localizado na Suíça. 
Considerado o maior experimento da história, o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês) é fonte de trabalho para mais de oito mil pesquisadores de diversos níveis de especialidade em todo o mundo. Centros de pesquisa de vários países participam remotamente dos estudos e auxiliam na análise do gigantesco fluxo de dados gerados pelo acelerador de partículas. Graças a uma iniciativa do Grupo Internacional de Extensão em Física de Partículas (IPPOG, na sigla em inglês), professores e alunos do ensino médio de 24 países – incluindo o Brasil – também têm a oportunidade de analisar dados reais da maior máquina já construída pelo homem. A experiência é proporcionada durante o Masterclass, workshop mundial realizado anualmente desde 2008. No Brasil, o evento ocorre no Centro de Análise e Pesquisa de São Paulo (Sprace, na sigla em inglês), localizado no Instituto de Física da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Barra Funda, e que integra a grande rede de instituições participantes do LHC. A análise dos dados é feita após uma série de palestras sobre a estrutura elementar da matéria e explicações sobre o funcionamento de aceleradores de partículas. Para Jorge Ferreira, que leciona física no Colégio Lourenço Castanho e participou da edição deste ano do Masterclass, realizada em março, esse tipo de atividade é importante para que os alunos entendam melhor o difícil trabalho do cientista. “Muitas vezes eles não imaginam o esforço que tudo isso envolve. Quando souberam que milhares de pessoas trabalham no LHC, ficaram impressionados.” Antes de participar da parte prática, os estudantes foram apresentados ao Sprace Game, jogo educativo criado no Brasil e desenvolvido especialmente para ensinar os conceitos básicos da constituição da matéria. O jogador controla uma nave de dimensões subatômicas e tem como missão construir partículas a partir de seus componentes fundamentais. Para isso, utiliza campos de força, colisões de partículas e um laboratório. O jogo está disponível na internet e é gratuito.

Mão na massa

Estudantes e professores tiveram como desafio identificar eventos denominados jota-psi, que geram partículas chamadas múons. Essas partículas podem ser facilmente detectadas.














Durante a atividade, um software reproduz, a partir de dados reais do LHC, a trajetória de partículas nos sensores do acelerador e, com essas imagens, os participantes têm condições de avaliar objetivamente cada evento e verificar as possibilidades de se tratar realmente de um jota-psi. Esses resultados foram cruzados com os de instituições participantes na França, Estados Unidos, Holanda e Inglaterra. Esse exercício, de aparente baixa aplicabilidade imediata para alunos do ensino médio, pode ajudar no cumprimento da Proposta Curricular do Estado de São Paulo, que inclui o tópico ‘partículas elementares’ no conteúdo programático de física do 3º ano do ensino médio. Em suas escolas, os estudantes dificilmente teriam acesso a esse nível de detalhamento e profundidade. Valéria Silva Dias, que leciona física na Unesp Guaratinguetá, diz que o evento ajuda o aluno a “instrumentalizar o aprendizado e entender como se produz conhecimento”.
Para os educadores, o workshop representa um contato – às vezes deixado de lado – com a academia e a ciência de alto nível, tirando-os do ambiente escolar e trazendo um novo repertório para suas aulas. A curiosidade dos próprios estudantes em relação ao LHC gera novas discussões e proporciona o desenvolvimento desses temas em ‘sala de aula’, seja no período regular de estudo ou em atividades extracurriculares. A intensa exposição midiática do LHC e a expectativa da comunidade científica de que ele resulte em descobertas grandiosas dão a esse experimento ares épicos, o que pode ser revertido em favor do ensino. “Os estudantes associam o LHC a termos de interesse, como antimatéria, buraco negro e Big Bang”, diz Valéria Dias. Esse gancho pode ser aproveitado para despertar o interesse por física e ciência nos jovens. Cabe ao professor ajudar a construir essa ponte.
Fonte : Ciência Hoje On-line/ SP


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